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Alzheimer de Abraços

Um dos Exercícios de um Workshop de escrita que fiz com a maravilhosa Mónica Menezes .

Mais alguém por aí com medo de esquecer os abraços?




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"Papá!

Achas que há Alzheimer de crianças?

Como assim Alzheimer de crianças, Pedro?

Eu acho que tenho Alzheimer dos abraços do avô.

Pedro, isso não existe.

Estou a esquecer os abraços do avô. Não é todo o dia, às vezes, lembro-me melhor à noite com a esperança de que de manhã as saudades me transportem até ao avô.

Pedro, o Alzheimer não funciona assim.

Mas não é esquecer, Papá? Das palavras, dos barulhos?

Eu penso que se o avô sentir demasiado silêncio, pode sentir-se abandonado, mas não acho que o amor quando é imenso, se esqueça.

Mas tenho medo que o avô tenha um desgosto e, se as pessoas me deixassem vê-lo, poderiam perceber que eu estou a ficar com Alzheimer de abraços e depois de eu explicar deixavam-me ficar com ele, porque tenho a mesma coisa.

Pedro, não é por isso que não podemos estar com o avô, é por causa da pandemia e nem tu, e nem o avô, graças a Deus, estão infectados.

E achas Papá, que  me deixam entrar se eu disser, que há abraços em perigo de esquecimento e amor a transbordar?

Pedro, os dias vão ficar mais coloridos, com muitos mais abraços.

Só temos de ter paciência e esperar."